Fotos: Beto Albert (Diário)
Olhos atentos durante o trabalho da máquina na Rua dos Andradas. Pela janela, os moradores do entorno do prédio da boate Kiss viram a demolição do que ainda estava em pé. Nesta segunda-feira (29), por volta das 8h30min, as últimas paredes do que um dia foi a casa noturna, que marca a história de Santa Maria em 27 de janeiro de 2013, foram derrubadas. O trânsito na via, entre a Avenida Rio Branco e a Rua André Marques, foi bloqueado por boa parte da manhã, mas já funciona normalmente.
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Este foi o último passo da demolição. O prédio não terá nenhuma das estruturas aproveitadas. A etapa seguinte se refere a limpeza do entulho pós-derrubada das paredes. Isso deve demorar cerca de oito dias, conforme empresa responsável pela obra Infa Incorporadora. Seu gestor e engenheiro responsável, Paulo Kull, detalha que novo bloqueio será realizado quando houver necessidade. Ele complementa:
– Mantemos o prazo de oito dias, pois depende do transcorrer da demolição. Até porque o prédio em si é colado nos prédios vizinhos. Isso requer um pouco mais de cuidado. Mantemos também a perspectiva de oito meses de obras, considerando fatores climáticos e possíveis incompatibilidades de projetos. Existe uma variável dentro desses oito meses.
Prazos
- Segunda (29) – Estrutura totalmente demolida
- A partir de segunda (29) – Limpeza dos entulhos e locação da obra. Essa parte integra o gabarito, mapeamento dos locais de escavação internas. Depois levantamento das paredes, laterais, fachadas
- Final da obra – Previsão 25 de março
- Trânsito – Durante a obra, não estão previstos novos bloqueios. Se necessário, poderá ocorrer
O presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria, Gabriel Rovadoschi, diz que o Memorial representa uma espécie de livro em exposição e representa a possibilidade de contar a história como ela sempre deveria ser contada.
– Cada mexida do maquinário, mexe dentro da gente também. Agora, conseguimos um espaço para contar essa história, sem precisar, ano após ano, criar uma mensagem nova, com adesivo acima de adesivo – rememora Rovadoschi.
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O Memorial
A entrega está prevista para ocorrer em oito meses, ou seja, março de 2025 (confira o cronograma no quadro abaixo). O incêndio no prédio da boate, em 27 de janeiro de 2013, deixou 242 pessoas mortas e mais de 600 feridas. Itens que ficavam no ambiente, como espelhos e portas, farão parte do acervo. São mais de 20 itens que compõem os objetos selecionados.
Cronograma
- Julho: Retirada e categorização dos objetos do acervo e a classificação dos materiais da boate como madeira, alumínio, gesso e espuma foram retiradas. Último passo foi a remoção completa da estrutura da boate;
- De Julho a Março de 2025: Construção Civil. Nessa etapa, serão realizadas ações como a estrutura frontal, composta por tijolos à vista, colocação do piso granito e a composição em vidro de partes do Memorial previstas no projeto. Além disso, será feito o madeiramento que vai sustentar a cobertura com madeiras comprimidas e sustentadas por 242 pilares;
- Outubro a Fevereiro de 2025: Instalação de ar condicionado no Memorial;
- De Novembro a Fevereiro de 2025: Em paralelo com a finalização da construção civil, será iniciada a etapa de paisagismo. Conforme Paulo Kull, engenheiro responsável, essa fase também inclui a procura por espécies nativas da região, que estão previstas em projeto. Para isso, serão feitas parcerias com universidades de Santa Maria;
- Março de 2025: Limpeza da obra e entrega do Memorial.
O projeto
O projeto de 383,65 metros quadrados será feito em um único pavimento, para facilitar a acessibilidade e a manutenção. O arquiteto Felipe Zene Motta é o responsável pelos ambientes que serão construídos no memorial. Ele foi o ganhador do concurso realizado, em 2018, pela Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) e pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RS) para escolher o projeto.
- Fachada – A proposta traz um muro de concreto e tijolos que bloqueia quase que inteiramente a visão do espaço interior, se vista da rua. De acordo com o autor do projeto, a austeridade da fachada representa o luto da cidade e exige respeito do visitante ao que aconteceu;
- O interior – Em contraste, ao atravessar o muro, encontra-se um espaço de luz e fluidez. O atravessar busca trazer uma signification do luto e do pesar;
- No centro – No coração do projeto, haverá um jardim circular de flores. À sua volta, 242 pilares de madeira, cada um representando uma vítima da tragédia, suportam uma cobertura radial que abriga as diversas salas do conjunto;
- Ao fundo – Será instalado um auditório, composto por um palco central e plateia em lados opostos. Uma sala multiuso de caráter cultural abrigará o acervo em formato de exposição permanente multimídia. Do outro lado, optou-se por criar uma sala única que abrigará a sede da AVTSM, assim como demais áreas de reunião e atividades coletivas